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    Porto, 11 fev (Lusa) – A moção de censura quinta-feira anunciada pelo BE é, para os politólogos António Costa Pinto e André Freire, uma tentativa de não deixar espaço ao PCP para liderar o protesto à esquerda, antecipando que o PSD não a deverá aprovar.

    Em declarações à Agência Lusa, António Costa Pinto explicou que o anúncio de Francisco Louçã de uma moção de censura a 10 de março “remete para a tentativa do Bloco de Esquerda (BE) não permitir que o PCP alargue ou ocupe o espaço na área de protesto à esquerda do PS”.

    “Estamos numa fase de não deixar que o PCP ocupe o espaço de protesto em relação a um BE, que se encontrará numa conjuntura difícil caso, a prazo, tenhamos um Governo de centro-direita”, defendeu o professor do Instituto de Ciências Sociais da Universidade de Lisboa.

    Também André Freire partilha esta ideia, acrescentando que esta moção do BE é uma “tentativa de encurralar o PSD” e “armadilhar o terreno para o obrigar a posicionar-se”.

    “Estão à espera que o PSD não aprove que é para eles dizerem, como costume, que o PSD é a muleta do Governo. É muita tática e pouca substância”, afirmou o investigador do Instituto Superior de Ciências do Trabalho e da Empresa.

    Já Carlos Jalali tem uma ideia diferente das motivações do bloquistas, afirmando que “ficaria surpreendido se esta moção fosse apenas tacticismo político do BE contra o PCP”, apenas preocupado com resultados eleitorais.

    “Tem a ver com uma certa redefinição da posição do BE e o separar de águas do PS depois da campanha de Manuel Alegre”, teorizou.

    Quanto ao sentido de voto da bancada social democrata, António Costa Pinto e André Freire antecipam que o PSD, em princípio, não irá deixar passar a moção.

    “Inclino-me para que o PSD, naturalmente fazendo a crítica, se abstenha, fazendo o papel de partido responsável, ganhando tempo e capitalizando votos”, avançou Freire.

    Costa Pinto refere que “o PSD terá todo o interesse em esperar pelo próximo Orçamento do Estado e por não criar imediatamente um cenário de crise política imediata”.

    “Em princípio, o PSD só terá interesse em fazer cair o Governo quando politicamente tiver a expetativa de ter uma confortável maioria, mesmo em coligação com o CDS-PP. Até agora isto ainda não é claro”, sustentou.

    Para Carlos Jalali, o partido de Passos Coelho tem que tomar “uma decisão complicada”, explicando que “as moções de censura têm custos eleitorais que não são facilmente avaliáveis para partidos como o PSD”.

    “Terá que avaliar os benefícios eleitorais que pode tirar viabilizando essa moção, ou seja, o que é que as sondagens dizem”, sublinhou o politólogo da Universidade de Aveiro, acrescentando que o partido “não terá ainda uma posição declarada e que irá aguardar até o mais tarde possível para tomar uma decisão”.

    O líder do BE, Francisco Louçã, anunciou quinta-feira que vai apresentar uma moção de censura ao Governo a 10 de março, um dia depois de Cavaco Silva tomar posse para um segundo mandato como Presidente da República, voltando a ser possível a dissolução do Parlamento.


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