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Milhares de votos podem chegar tarde demais - Des milliers de voix peuvent arrivés trop tard
Os boletins de voto foram enviados, mas greve nos correios do Brasil e de Paris podem impedir que muitos cheguem no prazo legal
por Alexandre Soares, Publicado em 25 de Setembro de 2009 in i jornal
O PS aprovou o fim do voto dos emigrantes por correspondência em Dezembro passado. Dois meses depois, o presidente da República vetou a lei e este domingo os votos da diáspora portuguesa serão mesmo contados. Porém, podem não ser todos. Apesar de quase 167 mil boletins de voto terem sido enviados, duas greves nos correios de Paris e do Brasil podem impedir que muitos boletins sejam devolvidos no prazo legal, dia 27 de Setembro. A Comissão Nacional de Eleições explica que nada pode fazer.
O presidente da Comissão da Participação Cívica e Política do Conselho Permanente das Comunidades Portuguesas (CPCP), Paulo Marques, desvaloriza a greve nos correios de Paris (que aconteceu apenas na quinta-feira). No entanto, a situação no Brasil, que desde a semana passada impede a entrega de 35 milhões de correspondências, preocupa-o. "Até hoje [ontem], há pessoas que nem tinham recebido o boletim de voto. Esses votos podem estar perdidos", explica. Além deste facto, descreve o emigrante em França, "os envelopes este ano são tão pequenos que o boletim de voto não cabe dentro deles sem ser dobrado - isto nunca tinha acontecido."
Abstenção Estes cidadãos elegem quatro dos 230 deputados que compõem a Assembleia da República - dois pelo círculo da Europa e dois pelo círculo fora da Europa. Historicamente, três destes lugares são ocupados por deputados do PSD e apenas um pelo PS. As eleições de 1999 são a única excepção registada. Nesse ano, foi a vez de o PS eleger três deputados. Uma década depois, os socialistas apostam em Paulo Pico, pela Europa, e Renato Leal pelo segundo círculo. No PSD, José Cesário foi o homem escolhido para representar o partido fora da Europa e Carlos Gonçalves no velho continente.
O maior fantasma a pairar sobre estes votos é o da abstenção: em 2005, apenas 36 mil dos 148 mil inscritos votaram. Quatro anos depois, nas eleições europeias de Junho, a abstenção atingiu os 97%. Nestas legislativas espera-se que a participação não ultrapasse os 30%. Carlos Reis, autarca na cidade francesa St. Jean de la Ruelle, de 65 anos, culpa o "método de votação demasiado burocrata" e lamenta que os últimos governos "tenham esquecido os cinco milhões de portugueses que vivem e trabalham no resto do mundo". Paulo Marques acredita que o voto electrónico pode ser uma arma poderosa para combater a elevada abstenção.
Apesar deste distanciamento, estes votos podem ser decisivos. Não seria a primeira vez. Em 1999, os socialistas elegeram 115 deputados, exactamente metade do total de deputados. António Guterres, eleito primeiro-ministro, precisou oferecer contrapartidas ao deputado do CDS-PP Daniel Campelo para conseguir aprovar o Orçamento de Estado. Nascia assim o célebre orçamento do "queijo limiano", baptizado em honra de Ponte de Lima, terra natal do deputado.
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