• Journal Diario de Noticias (Portugal) samedi 15 Mars 08

    Segunda volta é amanhã. Com apelidos familiares.
    Entre os milhares de candidatos às municipais francesas há apelidos que nos soam familiares: Carvalho, Ruivo, Carreira, Pereira, Marques.
    É a segunda vez, desde 2001, que várias centenas de portugueses se podem apresentar como candidatos às autárquicas no país. E não é de estranhar que outros candidatos de peso - como o presidente socialista da câmara de Paris, Bertrand Delanöe, ou o seu homólogo de Lyon, Gérard Collomb - façam questão em incluir um franco-português nas suas listas, em posição elegível. Nos últimos anos o número de eleitores da comunidade lusófona disparou, graças às campanhas de sensibilização, mas também a uma segunda geração mais militante. Se para as europeias de 1999 eram pouco mais de 8 mil, amanhã, para a segunda volta das municipais, serão cerca de dez vezes mais os portugueses ou franco-portugueses que se deslocam às urnas (o número de luso-descendentes é difícil de apurar uma vez que em França os dados oficiais não discriminam os nacionais de origem estrangeira).

    Um número ainda muito aquém dos cerca de quase um milhão de eleitores potenciais, que desde há alguns anos representam uma reserva de votos cortejada por todos os partidos, à direita, mas de uma forma mais visível à esquerda - dos comunistas aos socialistas. Em Fevereiro, o presidente da Câmara de Paris, socialista, realizou uma "marcha dos europeus" nos paços do concelho da capital para apresentar os candidatos de várias nacionalidades integrados na sua lista. O convidado de honra do evento foi o presidente da câmara de Lisboa, António Costa. Uma presença simbólica também para apoiar aquele que poderá ser o primeiro vereador franco-português de uma junta de freguesia da capital. Hermano Sanches Ruivo, presidente da Coordenação das Comunidades Portuguesas de França, foi uma das 20 personalidades da sociedade civil convidadas por Bertrand Delanoë para se apresentarem às eleições. Surge em quinta posição numa lista de esquerda que se apresenta ao XIV bairro de Paris. Entre os ilustres que o apoiam, conta-se uma das mais conhecidas residentes do bairro, a actriz portuguesa Maria de Medeiros. Depois de ter obtido 45% de votos na primeira volta das autárquicas, o candidato afirma-se esperançoso de, à segunda volta, conseguir concretizar o desejo de que "a segunda geração de portugueses ocupe finalmente um lugar no debate político francês". E sublinha: "A maioria dos candidatos com posições de destaque nestas eleições tem hoje cerca de 40 anos, é uma geração com uma visão diferente, a dos nossos pais, que tinha outras noções de participação cívica, eram alheios à ideia de contestação e preferia uma participação mais acanhada, ao nível do associativismo."

    Hermano Ruivo não nega que o convite que lhe foi endereçado foi também uma piscadela de olho ao eleitorado português, mas não hesita em dizer: "Tenho todo o gosto em dizer a todos os portugueses que o projecto do Bertrand Delanoë é o que melhor se adequa às expectativas da comunidade." Como autarca, espera poder criar um lóbi político franco-português para incentivar a mobilização, que afirma ter sido descurada, também pelos governos portugueses: "A primeira vez em que pudemos votar em França na eleição para o Presidente da República Portuguesa só foi em 2001. Para alguns foram mais de 35 anos à espera, o que é quase uma vida."

    Paulo Marques, que se recandidata ao lugar de vereador de Aulnay- -sous-Bois - região de Paris - por uma lista do partido conservador UMP, é também um protagonista da evolução da participação política da comunidade portuguesa.

    Ex-assessor de campanha dos presidentes Jacques Chirac e Nicolas Sarkozy para o eleitorado lusófono, foi um dos primeiros franco-portugueses a ser convidado para assumir funções políticas em França. "É possível que em 2001, porque era a primeira vez em que os europeus podiam votar, que existisse um aproveitamento da imagem de minoria, era importante ter um português numa lista, mas hoje a presença dos portugueses como candidatos é o reflexo real do peso demográfico da comunidade".

    À cabeça da associação Cívica, que agrupa os autarcas portugueses em França, tem multiplicado nos últimos meses as campanhas para apelar ao voto da comunidade, ao mesmo tempo que traça o perfil deste novo eleitorado.

    "Os portugueses partilham das mesmas preocupações do resto da população, focando mais a questão do emprego, os valores da família, os valores do trabalho, e também a questão empresarial. Existem mais de 45 mil empresas de portugueses em França. Se houvesse um tema mais específico, seria o da língua portuguesa em França. Se os nossos filhos não tiverem aulas de português com um certo nível, penso que a próxima geração será a que abandonará o português."

    Na primeira volta, a sua lista obteve 46,4% dos votos num resultado bastante cerrado com a lista opositora de "união da esquerda". Dos 120 portugueses candidatos na região de Paris, 11 foram eleitos e 109 vão à segunda volta.


    Para Luis Carreira, que se apresenta como o primeiro português candidato a vereador numa lista ao II bairro de Lyon, segunda cidade francesa, "é importante que os portugueses em França deixem de pensar que são emigrantes e passem a sentir-se cidadãos europeus". Pequeno empresário, este candidato que afirma "ter o coração à esquerda" acumula diversos cargos de liderança em associações e clubes portugueses desde há 15 anos. "O meu pai, quando era pequeno, dizia-me sempre: não faças barulho porque não estás no teu país, mas hoje digo que quero fazer barulho quero mostrar que posso e devo participar no debate político do que também é o meu país."

    Foi a vitória do líder de extrema-direita Jean-Marie Le Pen nas presidenciais de 2002 que o levou a querer participar no debate político. Em França desde os cinco anos, decidiu pedir a dupla nacionalidade para poder votar nas presidenciais e agora para poder assumir o cargo de maire adjunto. Lamenta que entre os 12 mil franceses que vivem em Lyon apenas 500 se tenham inscrito para votar. A lista socialista pela qual se apresenta recolheu 38,62% de votos, na primeira volta. O desafio é derrotar a direita do bairro, contando com o apoio dos centristas. Uma tarefa difícil num dos poucos bairros da cidade que não foi conquistado pela esquerda à primeira volta.

    Ao contrário da maioria dos candidatos de centro, Alcino Alves Pires, de 64 anos, não quis entrar em negociações à esquerda ou à direita para a segunda volta das presidenciais. Cabeça de lista do Movimento Democrático em Evreux, ao obter 10,43% na primeira volta, decidiu retirar-se da corrida e da vida política.

    Reformado desde há meses, embarcara nesta aventura política porque, afirma, "para mim a política é retribuir o que se recebeu e esta cidade deu-me muito". Recebeu vários convites para continuar na corrida, mas recusou-os todos por uma questão de princípio: "Sempre fui um centrista, em 1974 inscrevi-me no Partido Republicano e em 1978 na UDF, que hoje se transformou em Movimento Democrático (Modem). Há 45 anos que tento mudar a política na cidade onde vivo, através do meio associativo e desportivo."

    Presidente da Liga Normanda de Karaté, Alcino acumula uma série de outros cargos de presidência em organizações profissionais e associações regionais. Originário de uma aldeia nos arredores de Coimbra, empresário no sector da restauração e da hotelaria, orgulha-se de ter acolhido personalidades tão diversas como o actual presidente Nicolas Sarkozy ou a líder do partido comunista francês Marie-George Buffet. Hoje, sempre ao centro, abandona sem remorsos a vida política.

    Alda Pereira Lemaitre, 42 anos, cabeça de lista de uma "união da esquerda socialista, ecologista e cidadã" em Noisy-le-Sec, nos arredores de Paris, obteve na primeira volta 27,13% dos votos, aos quais soma agora o apoio dos 26,61% dos comunistas para a segunda volta. A caminho da presidência da câmara, afirma ao DN gente querer "humanizar a cidade".

    Responsável comercial e autora de livros para crianças, esta candidata nascida na Covilhã e com dupla nacionalidade recebeu na quarta-feira a visita e o apoio de peso da ex-candidata socialista às presidenciais Ségoléne Royal. "Sou a primeira candidata franco-portuguesa a apresentar-me ao cargo de presidente da câmara de Noisy".

    Se for eleita, entre os vários pontos do seu programa social, inclui uma medida simbólica, a geminação da localidade com uma cidade portuguesa e a criação de cursos de português para os filhos de imigrantes na localidade: "O facto de pertencer a uma comunidade que está bem implantada em França e de ser reconhecida como aberta e trabalhadora é uma vantagem para uma candidata."

    Antiga assessora do presidente da câmara para o ambiente, Alda Lemaître, militante de esquerda, desloca-se todos os anos pelo menos uma vez a Portugal, frequentemente para as comemorações do 25 de Abril. Quando chegou com os pais a França, em 1968, conheceu ainda a vida do bairro de lata dos portugueses de Nanterre, antes de se mudar para Villeparisis em Seine-et-Marne.

    Quarenta anos depois prepara-se, como muitos outros candidatos, para tomar as rédeas do poder em França.

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