-
Autarcas luso-descendentes querem renovação das práticas na comunidade francesa
Autarcas luso-descendentes querem renovação das práticas na comunidade francesa
26-11-2005 23:52:00
A renovação das práticas pela comunidade portuguesa em França foi hoje defendida por vários autarcas luso-descendentes, lembrando que "os objectivos mudaram" depois da primeira geração de emigrantes no país."Os objectivos mudaram, as práticas devem mudar", defendeu o presidente da Câmara Municipal francesa de Chaligny, Filipe Pinho, no 3' Encontro dos autarcas portugueses e luso-descendentes eleitos em França, que hoje se realizou em Paris.
Para este edil, que interveio durante a manhã, "é preciso ultrapassar os torneios de futebol, os grupos folclóricos e os torneios de sueca" e encontrar novas formas de afirmar a cultura portuguesa.
Pinho alertou para o perigo de um "comunitarismo muito fechado" por parte dos portugueses em França e, nomeadamente, dos autarcas de origem portuguesa na defesa dos interesses desta comunidade.
"Não somos eleitos em Portugal, mas em autarquias francesas", frisou, durante um debate sobre a língua portuguesa e perante as críticas de muitos presentes quanto à falta de aulas e professores em França.
A polémica foi levantada por Maria Chatellier, uma autarca portuguesa em Sarcelles, que confessou que, casada com um francês e tendo sobretudo amigos franceses, os filhos não falam a língua de Camões.
"Não vejo porque me culpabilizar por os meus filhos não falarem português", declarou, sob a censura de alguns colegas.
Para Alzira Cardoso, conselheira municipal em Mulhouse, existe uma diferença na forma de ver as coisas entre as primeiras gerações de emigrantes e os jovens luso-descendentes que já nasceram ou estudaram em França.
"Eu não tenho de me integrar porque a minha cidade é Mulhouse, e Barcelos [onde nasceu] é a minha cidade de férias", vincou, perante o que define como uma "vitimização" que diz observar no discurso de alguns autarcas presentes.
"Há muitas coisas lógicas para nós que para os nossos pais não são", como o facto de "termos acesso às mesmas coisas que os franceses e de devermos aproveitar o que o país tem para nos oferecer", indica, em declarações à Lusa.
Alzira concorda com os seus colegas jovens autarcas no alerta para um perigo de os portugueses de França "caírem num comunitarismo, e isso isolar-nos mais do que integrar".
"O futuro é a cidadania", estima.
"Hoje estamos num novo estádio", admite o secretário de Estado das Comunidades Portuguesas, António Braga, que recorda as dificuldades no início da emigração portuguesa.
"Eu sei que os portugueses já foram explorados, mas hoje estão em melhores condições para participar na vida cívica", salientou.
"Os nossos pais fizeram o que fizeram, mas agora é preciso olhar para a frente", insiste Carlos Oliveira, luso-francês conselheiro municipal em Neuvers, em declarações à Lusa.
Este autarca socialista, que se instalou em França com 13 anos, mostra-se sensível às suas raízes lusitanas, mas garante que, nas suas funções, "faria por um português o que faria por um espanhol, um africano ou um francês".
Hoje está mais empenhado na vida política francesa do que na vida associativa, onde militou numa colectividade portuguesa local, e nota um decréscimo de interesse dos jovens pela aprendizagem da língua portuguesa.
Ainda assim, está pronto a lutar pela criação de cursos de português, mas "integrados nos horários das escolas e pagos pelo Estado francês, que é onde vivemos e pagamos impostos".
Presente em todos os encontros de autarcas organizados pela Embaixada portuguesa em França, "primeiro por curiosidade, hoje para escutar ideias", mostra-se pouco seguro dos seus objectivos.
"Não sei ainda o que podemos fazer politicamente", revela.
"Optimista", o ministro dos Assuntos Parlamentares, Augusto Santos Silva, que encerrou a reunião, elogiou o "debate vivo e aberto" que se registou, e que permite melhorar o conhecimento e a acção no terreno.
O ministro falou na necessidade de uma "integração social democrática" nas sociedades actuais de todos os imigrantes, que devem aceitar os valores dos países de acolhimento.
E citou o escritor Amin Malouf: "As democracias de hoje precisam de identidades múltiplas".
-
Commentaires